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domingo, 1 de maio de 2011

JUIZ DE FORA/MG - Tráfico toma entorno de bares


O movimento no entorno de bares tem atraído traficantes de Juiz de Fora que comercializam drogas para usuários cada vez mais jovens. Na Rua Halfeld, parte alta, região Central, onde um aglomerado de bares concentra adolescentes de classe média e média alta, o comércio e o consumo de entorpecentes acontece de forma escancarada. Maconha e cocaína são vendidas e usados em via pública por rapazes e moças. Alguns até tentam se esconder e procuram refúgio no estacionamento da Igreja São Sebastião ou debaixo das árvores da Rua Gilberto de Alencar, mas a maioria não oculta a ilicitude do ato. A Tribuna acompanhou a rotina do local, já apelidado de "Inferninho", no fim de semana anterior à Semana Santa. Entre a noite de sexta-feira e o início da madrugada de sábado, a reportagem flagrou várias cenas de comércio e uso de drogas. Alguns adolescentes contam moedas e notas para a compra de cocaína, que é negociada por pelo menos quatro jovens diferentes. Os usuários chegam em grupos, compram o entorpecente na Rua Halfeld e saem para consumi-lo sobre os capôs de carros ou sobre as mãos dos próprios colegas.
Mesmo durante o dia, o consumo tem sido frequente na região. No último dia 12, um grupo de cinco jovens fumava maconha à tarde na Rua Gilberto de Alencar. Segundo moradores das imediações, até o uso de crack tem sido comum. "Ali é o fumódromo. Temos que conviver com essa situação. Cada hora tem um grupinho diferente usando droga. Por ser uma via de pouco movimento, em que a polícia não passa, eles aproveitam", conta o morador J. Porteiro de um dos prédios da Halfeld, M. lamenta as cenas. "Eles compram e usam por aqui mesmo. Outro dia tive que tirar um dos meninos que estava cheirando cocaína aqui no degrau de entrada do prédio. Falei com ele que a câmera de vigilância estava filmando, só assim ele parou. Eles ficam loucos, alucinados. No fundo, tenho pena."

A Tribuna conversou com alguns jovens. Um deles ainda estava com uma garrafa contendo um líquido semelhante ao conhecido como cheirinho da loló nas mãos e disse não ter medo do vício, nem da polícia. "Não acontece nada. Tem gente aqui cheirando cocaína. Eu só cheiro loló e fumo maconha", contou o jovem, que disse ter 18 anos e ser universitário. Durante o tempo em que a reportagem esteve no local, apenas uma viatura policial circulou no trecho, sem realizar abordagens. Após entrevista para a Tribuna, a PM realizou ações no local nas últimas quinta e sexta-feiras.
Apesar de ter sido fotografado com o grupo de supostos usuários de cocaína, outro jovem negou fazer uso de tóxico. "Sei que vendem cocaína, que usam aqui, mas eu não. Sou usuário de maconha", disse o garoto que também afirmou ter 18 anos.
Além dos moradores, quem estuda nas proximidades reclama da situação. "De umas semanas para cá, ir embora na sexta à noite está um tormento. A presença massiva é de menores de idade que consomem bebidas alcoólicas, fumam maconha e cheiram cocaína na calçada em frente à instituição de ensino. Além disso, há o risco de atropelamento devido ao fluxo intenso de veículos e às brigas generalizadas, já que se encontram adolescentes de vários bairros. A polícia não faz nada para conter os ânimos nesse local, e só quem é obrigado a passar lá, às sextas, após as 22h30, sabe o que é", reclamou o universitário R. 
Vizinhos adotam medidas extremas
Além da movimentação intensa do tráfico e do consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes que desfilam com copos nas mãos, carros descem a Rua Halfeld em alta velocidade e realizam manobras que colocam os pedestres em risco. Na noite de sexta-feira, dia 15, os condutores de um Corsa e de uma caminhonete Toyota passaram várias vezes na via acelerando, e, em seguida, freando bruscamente para 'cantar' pneus.
Moradores reclamam dos problemas relacionados à algazarra e à perturbação do sossego. A vizinhança tem adotado medidas extremas para tentar viver no local. "Não temos mais vida. São mais de cem famílias prejudicadas, que não sabem mais o que é ter uma noite de sono. Fora as gritarias, há o barulho dos carros de som, cujos donos param e abrem o porta-malas. Tenho distribuído equipamentos de proteção auricular para os locatários. Quando dá 3h, 4h, tenho descido e conversado com quem está em frente ao prédio, pedindo para que abaixem o volume", contou N., uma das moradoras e locadora de imóveis na via, que pretende acionar o Ministério Público. Um deles chegou a ponto de colocar tapume em uma das janelas e passou a dormir no quarto dos fundos para fugir do barulho. Já uma idosa de 89 anos só consegue dormir à base de medicamentos. "De uns seis meses para cá, a situação piorou muito. Minha mãe precisa tomar remédio para dormir, pois a falta de sossego estava afetando sua saúde. Não temos nenhuma qualidade de vida", contou J., filho da idosa.
O funcionário público R. e sua esposa I. também já não sabem mais o que fazer para tentar garantir a paz. "Já cansamos de registrar ocorrência, procuramos a Prefeitura inúmeras vezes, além do Conselho Tutelar, já que muitos desses meninos são menores de idade. Mas os órgãos estão omissos, só que eu acho que estão esquecendo que a omissão é crime", lembrou R. 
Donos de bares reconhecem problemas
Até proprietários de bares da Rua Halfeld enxergam a situação e dizem já ter pedido ajuda à polícia. "Estava tendo muita briga. Sobre as drogas, também precisamos de ajuda. Sabemos que acontece, mas não podemos fazer nada, pois ocorre na rua. Dentro do bar, não permito. Já cheguei a colocar gente para fora, pois estavam comercializando drogas aqui dentro. Também afixamos um cartaz, informando que não vendemos bebidas para menores de 18 anos, pois muitos tentavam e ainda tentam comprar, mas pedimos identidade", informou a proprietária de um dos estabelecimentos.
Outro dono de bar disse que o comércio não pode ser responsabilizado. "Os bares sempre levam a culpa, mas não podemos proibir o que está fora de nossas portas. Não posso proibir os carros com som. Não tenho como evitar o barulho. Eu peguei o bar há um mês, mas não sei se permanecerei com a casa pela quantidade de reclamações dos vizinhos."
Coincidentemente, na noite em que a Tribuna acompanhou a rotina no local, dois fiscais de posturas da Secretaria de Atividades Urbanas estiveram na via para a medição dos ruídos, confirmando o índice acima dos 60 decibéis permitidos após as 22h. Dos quatro bares do trecho, três foram notificados, um deles por não possuir alvará de localização. O relatório será remetido ao Ministério Público.
Sobre o combate ao tráfico e uso de drogas, as polícias Civil e Militar prometeram providências. "Ainda não recebemos denúncia formal, mas vamos agir imediatamente para investigar essa situação", garantiu a titular da 7ª Delegacia Distrital, Ângela Fellet. O comandante da 30ª Companhia da PM, capitão Yoshio Yamaguchi, também disse não ter conhecimento da gravidade da situação. "Temos informações de que estão ocorrendo muitas reclamações referentes à perturbação do sossego. Até chegamos a realizar apreensões de usuários e prisões de traficantes, estudantes da região Central, mas a quantidade de drogas apreendida foi pequena. Como a PM não tem como ficar 24 horas no local, faremos um levantamento para chegar aos responsáveis. Estamos também com um trabalho em parceria com a Secretaria de Atividades Urbanas para garantir a tranquilidade dos moradores."
Na Zona Sul, comércio permanece
Na Zona Sul, a realidade é próxima à constatada no Centro. Nas imediações de bares na Rua Morais e Castro, no São Mateus, adolescentes e jovens de classe média são abordados e incitados ao uso de maconha e cocaína. A diferença é que, neste caso, o esquema do tráfico seria mais articulado - com atuação de olheiros e vapores. Na madrugada do sábado anterior ao feriadão, a Tribuna também acompanhou a movimentação de drogas no local.
Duas das mesas de um estabelecimento estavam ocupadas por supostos jovens vapores que, se passando por clientes, faziam a entrega do entorpecente para os usuários. Além disso, havia no ponto pelo menos outras quatro pessoas que estariam ligadas ao esquema, entre elas uma jovem que seria "olheira". Ela permaneceu todo o momento bem próxima à equipe do jornal, enquanto outros dois homens também observavam atentamente o entorno. Grupos de jovens e adolescentes eram abordados por alguns dos vapores, já outros se dirigiam diretamente à mesa. A entrega da droga, porém, quase sempre era realizada na calçada oposta ao estabelecimento.
A Tribuna conversou com um dos grupos de adolescentes de classe média alta- quatro deles de 15 anos e um de 17 - abordado pelos vapores quando iam para um aniversário de 15 anos. "Ele virou para a gente e disse: 'Fala menor, se quiser tenho pó.' Como recusamos, ele ainda nos xingou. Estamos até dando a volta para não passar lá em frente ao bar de novo", contou um dos meninos de 15 anos.
O ponto de drogas da Morais e Castro também já é conhecido pelas polícias. No início do ano, após reclamações constantes de moradores, a 1ª Delegacia Distrital de Polícia Civil, no São Mateus, desencadeou uma operação que resultou na prisão de um estudante, 19, e na apreensão de dois homens, portando dois invólucros contendo crack e mais 19 com cocaína.
Ainda no São Mateus, na região do entorno do complexo de estabelecimentos instalado no local de um antigo posto de combustível, a venda de drogas e o consumo também continuam a acontecer, porém, de forma mais discreta, e ainda mais tarde. "O movimento maior é durante a madrugada, até mesmo no momento de retorno para casa. Outro dia havia um homem usando crack aqui próximo", contou um dos moradores vizinhos. 

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