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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Chefes das Forças de Segurança se reúnem em almoço no Complexo do Alemão



Rio - Para celebrar um ano da ocupação do Complexo do Alemão, na Zona Norte da cidade, José Mariano Beltrame, almoça na Base da Força de Pacificação nesta segunda-feira acompanhado do comandante do Comando Militar do Leste, general Adriano Pereira Junior, e do comandante da Força de Pacificação, general Otávio Santana Rêgo Barros
Estarão presentes à reunião também o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Costa Filho, da chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, e dos subsecretários da Secretaria de Segurança, de Planejamento e Integração Operacional, Antonio Roberto Cesário de Sá, e de Modernização Tecnológica, Edval Novaes.
Aniversário da reconquista
Um ano após a reconquista do território até então impensável para a polícia - os complexos do Alemão e da Penha -, Beltrame fez uma avaliação daquele momento histórico e do legado que a ocupação deixou no trabalho das forças de segurança em outras comunidades do Rio. De acordo com ele, nem mesmo os episódios de excessos e desvios de conduta cometidos por alguns policiais tiraram o brilho da retomada do Alemão. 
Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Foto: Alexandre Vieira
Confira a entrevista:
O DIA: - Que lições o senhor tira da ocupação do Complexo do Alemão? Quais os pontos positivos o senhor destacaria e quais os negativos, que não serão repetidos em outras operações?
Beltrame: - Tem que se diferenciar o Alemão das outras ocupações. O Alemão não foi uma operação para fazermos uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), mas para terminarmos com um foco comandado por lideranças do Comando Vermelho, que dali disseminava lugares para que o Rio de Janeiro fosse tomado por focos de incêndio. Então, primeiramente, fizemos uma operação pontual nesse sentido. Mas já que se entrou e conseguiu colocar a tropa ali, nós não vamos sair nem fazer outra operação lá na frente, causando talvez um outro trauma. Já que se fez de uma vez, se solicitou ao Exército que fizesse a manutenção. Portanto, o Alemão fizemos pra acabar com aquele foco de bandidos que saíam dali para botar fogo em pontos da cidade e, a partir dali, para não perdermos a oportunidade, o Exército mantém aquela área para que a gente venha instalar a UPP.
- De alguma forma, a ocupação do Alemão ajudou na formatação da ocupação da Rocinha?
É claro que ajudou, porque na medida em que envolve instituições policiais, quanto mais trabalho juntos, melhor fica a a relação. A participação conjunta foi melhor nas outras ocupações seguintes, sem dúvida.
Arte: O Dia
Arte: O Dia
- A informação de que ordens para os ataques criminosos que ocorreram na cidade antes da ocupação partiram de presos, reforça a necessidade de manter esses bandidos longe do Rio?
Reforça, sem dúvida, mas temos que dificultar a vida dessas pessoas. Porque o criminoso aqui ou lá, tem direito de falar com advogado, com familiares. E o comando, a ordem, veio de forma igual. Mas uma coisa é fazer isso aqui no Rio de Janeiro e a outra, em Mossoró (CE), por exemplo. Sem contar que, eu tenho certeza de que a sociedade carioca não faz questão nenhuma de ter essas pessoas aqui.
- A ocupação resgatou para a cidade um território importantíssimo. No entanto, a Operação Guilhotina, desencadeada depois pela Polícia Federal, indiciou alguns maus policiais por cometerem desvios de conduta. O senhor acha que isso tirou um pouco do brilho da ocupação do Alemão?
A Operação Guilhotina foi uma ação que contribuímos e tomamos a iniciativa de ir à Polícia Federal e pedir apoio. O resgate do território do Alemão e da cidadania de pesssoas, que passaram a dormir direito, a liberdade e a esperança são muito grandes para serem maculadas com algo como desvio de conduta. É claro que, levando em conta que isso é triste, lamentável, mas é pertinente a pequenos grupos de pessoas. As instituições são muito maiores que isso. A prova disso é que as instituições, com todos os seus problemas, é que estão levando a paz e pacificando a cidade.
- O senhor decidiu adiar a inauguração da UPP do Alemão para março. Até esta data, a secretaria terá efetivo formado suficiente, já que só a Rocinha demandará mais de mil homens?
É um equívoco achar que a gente pediu ao Ministério da Defesa para ficar no Alemão porque não tínhamos efetivo. Na verdade, aproveitamos ali é que temos uma instituição de renome e tradição, que sem dúvida está engajada e fazendo um trabalho fantástico. Se essa instituição se propõe a permanecer, por que não permitir que o Exército fique e aprimorar esse projeto em outras áreas? Não estamos em condições de renegar auxílio. Tomara que o Exército fique, quem dera que permanecesse e nos ajudasse nesse processo. Acho que a presença deles lá nos ajuda. Não vou abrir mão do auxílio de qualquer força. O problema do Rio é antigo e agora estamos tendo propostas de mudanças. Se para realizar estas propostas tivermos que pedir auxílio a outras forças, como estamos fazendo, não vejo problema.
- Isso significa que o senhor pode pedir para o Exército ficar até depois de março?
Por mais que tenhamos dificuldade de formar o efetivo, temos o Exército instalado. A presença deles permite que a gente flexibilize o programa. Eles se propõem a ajudar, querem ficar, por que não? Vamos aproveitar para que a nossa chegada seja de de forma gradativa, tranquila, firme. Entre março e junho, a gente ocupa e o Exército sai. Está planejado e temos condições de fazer. Não iríamos fazer a Rocinha nem nos comprometer com Exército se não estivesse. Efetivos estão garantidos e vamos fazer o que foi programado.
- Até que ponto a presença do Exército foi importante para a pacificação do Alemão?
Diria que a presença do Exército foi vital. Porque entramos na Vila Cruzeiro com a intenção de obstruir os focos de incêndio, que conseguimos colocar os blindados com as tropas dentro do Complexo da Penha. Já que estamos ali, vamos avançar e tomar o Alemão. Para não perder a oportunidade de ter ocupado toda aquela área sem trauma, pedimos que o Exército fizesse esse papel e tem sido parceiro importante na ocupação.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
- O fato de a polícia levar um ano e meio para ocupar todo o complexo, vai obrigá-la a fazer novas operações por lá?
O que vai ser feito lá é o projeto UPP, que tem quatro fases. A primeira com a entrada de forças especiais, depois a transição e interação maior com a comunidade, e a última, que implica na presença de policiais novos. É o que vai ser feito.
- Como o senhor reagiu às denúncias de excessos cometidos por militares no Alemão?
Aquela área está com o Exército, que tem tomado suas providências. A gente tem muito mais aspectos positivos com eles lá do que qq outro problema. Acho que o Exército tem tomado suas medidas e qualquer denúncia será apurada. Se os problemas existirem, serão sanados.
- A população tem reclamado da carência de ações sociais. Qual a sua avaliação quanto aos projetos sociais no Complexo? Isso é uma preocupação? 
O problema social é uma preocupação geral. Não vai ser com a polícia que vamos vencer essa luta, mas levando dignidade a essas pessoas. Eu vejo, cada vez que vou lá, muita obra. Acho que a prefeitura, em especial, está fazendo um bom trabalho lá. Mas temos que entender que a carência é muito grande. Não vamos mudar um lugar ocupado totalmente desordenado em um ano ou dois. Quanto mais velocidade nessas propostas sociais, melhor. Temos que mostrar a cada dia para essas  pessoas que é muito melhor estar ao lado do estado que ao lado do crime.
- Qual o perfil que o comandante da UPP Alemão deve ter?
O que a gente procura sempre nos comandantes é que tenham treianamento de polícia de proximidade, mas que tenham conhecimento de comunidade, que saibam como é a vida dentro de comunidade. É isso que procuramos. As pessoas que tenham um passado bom dentro da instituição, com lisura, transparência, sem anotação. E os comandantes novos, graças a Deus, temos ido bem em nossas escolhas.
- Muitos traficantes continuam atuando dentro daquelas favelas. O que a Polícia Civil está fazendo para prendê-los?
Temos que fazer um levantamento e a área de inteligência, atuar. Temos procurado o momento certo, a oportunidade de fazer as prisões fora das comunidades. Não é um trabalho fácil, porque essas pessoas perderam seus territórios e estão ali transitando de maneira temporária e dissimulada. Não é fácil, mas temos feito trabalhos feitos com sucesso em outras comunidades e vamos fazer isso também no Alemão e na Penha.
- Alguns moradores ainda são resistentes à tomada do território. O que o senhor diria a essas pessoas?
A proposta da polícia é muito clara. É só ver o trabalho feito em outras comunidades. O que queremos é que a sociedade interaja com a polícia e vice-vesa. Mas não podemos esquecer que há aí um hiato de 20, 30 anos, onde a polícia se afastou da sociedade e a sociedade se afastou da polícia. Não foi em vão. A polícia tinha outra proposta de entrar à procura de traficantes, armas e drogas, e isso causava trauma. Cabe a nós mostrar que o que se quer é uma polícia que presta serviço, interage, e que conhece a comunidade onde está. Não é fácil, são anos a serem recuperados. 
- O projeto das UPPs prevê a utilização de policiais recém-formados. No entanto, em alguns casos, vemos denúncias de policiais envolvidos em corrupção e pagamentos de propinas, como na Coroa, Fallet e Fogueteiro. Como evitar que os novos se envolvam em casos como esses?
É bom que se diga que o problema do Fallet foi resolvido, apurado e investigado pelo Comando de Polícia Pacificadora. Através de inquérito, como a gente quer a Corregedoria, pró-ativa. É assim que vai ser feito. Vamos pegar as denúncias, apurar e as investigações serão feitas. Mas não temos garantia nenhuma de que essas coisas não vão mais acontecer. O que se tem que fazer é muita supervisão, muito controle, no sentido de fazer com que os policiais não venham sucumbir em favor do crime. Mas o mais importante e que não podemos deixar de pacificar as áreas, com medo de que venha a ter desvio de conduta lá na frente.

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