General Expedito - De engraxate a general uma história de superação e garra.

Em março de 2010, quando foi realizada a mais recente promoção de oficiais no Brasil, uma em especial chamou atenção. Expedito Alves de Lima, que com apenas 10 anos foi admitido como engraxate numa unidade militar no Rio de Janeiro, estava entre os recém-promovidos generais. Para conhecer um pouco mais desta fantástica jornada, Diálogo conversou com o General Expedito.

DIÁLOGO: O senhor pode falar um pouco sobre sua infância na Paraíba e por que foi para o Rio de Janeiro?

General Expedito: Nasci em 1955, na Paraíba. Sou o quinto filho dentre sete irmãos. Meus pais eram modestos agricultores daquela região imensamente castigada pela falta de chuvas. Certa ocasião, meu pai esteve em Brasília, trabalhando nas obras de construção da cidade, e posteriormente no Rio de Janeiro. De volta à Paraíba, decidiu mudar de vez com todos nós para o Rio de Janeiro. Lamentavelmente, em meados de 1962, ele abandonou a família legítima para constituir união com outra mulher, desaparecendo em seguida.

DIÁLOGO: Como foi o processo de admissão como engraxate no Centro Social do Regimento Santos Dumont?

General Expedito: Comecei a trabalhar como engraxate nas proximidades do local onde residia no Rio de Janeiro, após ter eu mesmo confeccionado uma pequena caixa de madeira e adquirido o material necessário (escovas, graxas, tintas e flanelas), com dinheiro procedente da venda de sucata obtida das oficinas de uma empresa de ônibus local. Pouco tempo depois, por volta do ano de 1966, época em que cursava o primário na escola, ouvi falar que poderia trabalhar como engraxate dentro do quartel dos paraquedistas, desde que fosse autorizado pelo Centro Social [CESO] do Regimento Santos Dumont, uma organização militar do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, atual Brigada de Infantaria Paraquedista. Com mais dois colegas interessados, dirigime ao CESO onde obtive autorização para trabalhar naquele aquartelamento, onde passei a contar com frequente orientação, incentivo nos estudos e ajuda material dos oficiais e praças.

Um dos maiores feitos do gen. expedito Alves de lima foi ter passado no teste de admissão para o ginásio estadual Presidente getúlio Vargas.[Fotografia fornecida pelo CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO (CCOMCEX)]

DIÁLOGO: Como avançou na sua carreira? E quais foram os desafios ou as provas mais difíceis para avançar?

General Expedito: Procurei avançar na carreira sempre me esforçando para fazer o que entendia ser o melhor para a Instituição, ainda que a custo de muitos sacrifícios pessoais e familiares. Assim é que, ainda recém-casado, fui servir na Guarnição Especial de 1ª Categoria, bem como respondi positivamente a todos os convites recebidos para assumir novas responsabilidades, particularmente para ser instrutor. Sem dúvida, o desafio do ingresso na carreira foi o mais difícil e decisivo de todos. Vencida a etapa do concurso de admissão, viria muito cedo o afastamento da família e dos amigos, em plena adolescência, para realização dos cursos da EsPCEx e da AMAN, além das dificuldades iniciais decorrentes da condição de Cadete não nadador.

O Gen. Expedito Alves de Lima começou a trabalhar como engraxate enquanto frequentava o Ensino Fundamental.[Fotografia fornecida pelo CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO (CCOMCEX)]

DIÁLOGO: Quais foram as suas maiores conquistas?

General Expedito: Considero como uma das minhas maiores conquistas a aprovação em 1967 no concurso de admissão ao Ginásio Estadual Presidente Getúlio Vargas, que era naquela época um dos melhores colégios do Rio de Janeiro, e que, não podendo pagar curso preparatório ou aulas de reforço, me proporcionou a base necessária para outra grande conquista: dentre mais de 7.000 candidatos disputando 235 vagas nas provas para ingresso na EsPCEx realizadas em 1971, eu passei no exame de admissão. Obtive outras importantes conquistas ao longo da carreira, tais como três nomeações para instrutor da AMAN e duas para instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.

O Gen. Expedito Alves de Lima (à esquerda) recebe uma Espada de Oficial-General de seu padrinho, o Gen. (aposentado) Domingos Carlos de Campos Curado, 1ª Turma da Reserva, em 2010. [Fotografia fornecida pelo CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO (CCOMCEX)]

DIÁLOGO: O senhor teve contato posterior com os oficiais da época quando trabalhou como engraxate? Qual foi a reação deles? E a sua?

General Expedito: Em algumas oportunidades posteriores, reencontrei oficiais e praças conhecidos da época em que trabalhei como engraxate. Em todas as situações de reencontro, a reação deles sempre foi de muita emoção, indisfarçável orgulho e satisfação ao me verem vencendo cada etapa, galgando postos do oficialato. Ao ver cada um deles, minha reação sempre foi a de externar gratidão e reconhecimento pelo que fizeram por mim e, mais que tudo, pelas valiosas amizades consolidadas e fortalecidas com o passar do tempo.

DIÁLOGO: Que lições o senhor pode tirar de sua experiência?

General Expedito: Minha experiência de vida, culminando com a recente ascensão ao generalato, evidencia, de forma inequívoca, o caráter democrático do Exército Brasileiro, ao possibilitar iguais oportunidades para todos que nele ingressam, independente de origem, raça, credo ou condição social. O sadio ambiente do qual desfrutei na infância, ainda como civil, no interior do quartel, além de servir como motivação para minha escolha profissional, seguramente preservou-me da influência negativa de más companhias, algumas da própria vizinhança onde eu residia.

O Gen. Expedito Alves de Lima e sua mãe no dia da Cerimônia de Entrega de Espadas a Cadetes na Academia Militar das Agulhas Negras em 1975. [Fotografia fornecida pelo CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO (CCOMCEX)]

DIÁLOGO: O senhor é um exemplo para milhares de jovens. Que conselhos poderia dar aos que pensam seguir seus passos?

General Expedito: Se meu exemplo puder ser aproveitado positivamente pelos jovens hoje, coloco em destaque a importância de saber ouvir os mais velhos, aqueles que reconhecidamente querem o nosso bem, de estar atento para não se deixar influenciar negativamente pelo mal, de aprender a viver o hoje sabendo escalonar objetivos de vida bem definidos para o amanhã e o depois.

DIÁLOGO: ¿Cuáles son las características de un buen líder?

General Expedito: Destaco, dentre as principais características de um bom líder: o valor profissional, que é fortalecido pela experiência adquirida com o passar do tempo; o exemplo, como referencial a ser seguido; a presença, ação fundamental que proporciona maior conhecimento pelo estreitamento da ligação e interação com os subordinados; e a credibilidade, característica sem a qual nenhuma liderança se sustenta.

http://www.dialogo-americas.com/pt/articles/rmisa/features/knowledge_is_power/2010/07/01/feature-03

GEN EXPEDITO CUMPRIMENTANDO O GEN ENZO, COMANDANTE DO EXÉRCITO

Nota: TIVE A HONRA DE CONHECER E CONVERSAR COM O GEN EXPEDITO NA PASSAGEM DE COMANDO PARA FORÇA DE PACIFICAÇÃO, NA CIDADE DO RO DE JANEIRO.

COMENTÁRIO RECEBIDO VIA FACEBOOK: 

Renan Alverte  Sem dúvida um grande exemplo a todos nós jovens que tem mente o ingresso na carreira militar. Boa a matéria

COMENTÁRIOS VIA E-MAIL: 

 Prezado amigo 1º Ten R2 Art Schmitz, bom dia,

Parabéns pela coluna que está cada vez melhor, assim como eu creio que muitos companheiros se mantém informados de muitos acontecimentos ligados ao Exército e à cidade de Juiz de Fora por intermédio do teu trabalho.

A matéria sobre a carreira do meu dileto amigo Gen Expedito, além de emocionante, serve de exemplo para nossos jovens e é um testemunho eloquente do espírito democrático do nosso Exército.

Grande abraço e fique com DEUS.

             Gen Leite - CMO

Parabéns, de certo a vida do gen expedito deve de tempos em tempos voltar a coluna para relembrar o valor democrático do Exercito.

Ten Cel Augusto Perez - Cmt do 4º GAC