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sexta-feira, 25 de março de 2011

O ministro da Justiça fez uma acusação muito grave em SP: ou ele próprio toma providências ou passa por prevaricador e cúmplice. Há outra hipótese: estaria fazendo politicagem


O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, esteve em São Paulo ontem. Participou de um seminário na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) intitulado “Segurança Pública: Uma Visão de Futuro”. E fez uma acusação tão grave quanto genérica: segundo ele, governos estão fazendo acordos com o crime organizado. Cardozo não é um qualquer e não deveria se portar como tal. É o ministro da Justiça, chefe funcional da Polícia Federal. Uma de suas tarefas é justamente combater o crime. Não lhe cabe fazer acusações genéricas.
Num país que levasse um pouquinho mais a sério o que dizem as autoridades, seria convocado amanhã pela presidente da República e, das duas, uma: ou apresentava o seu programa para combater o mal que denunciou ou estaria no olho da rua. Cardozo cresceu na hierarquia governista. Era um dos “Três Porquinhos” da campanha, na classificação carinhosa da presidente. Torço para que seu discurso não seja parte de uma “operação”. Já chego ao ponto.
Segundo Cardozo, “o governo tem de parar de fazer de conta que o crime organizado não existe e de enfrentá-lo, em vez de “fazer acordos tácitos”com a bandidagem. Para ele, essa “é uma postura histórica”, adotada, “infelizmente”, por “nossos governantes”. Foi ainda mais enfático: “O Estado tem que reconhecer a presença do crime organizado e combatê-lo. Não adianta fingir que ele não existe. Ele, infelizmente, existe, e nós temos que ter a coragem para enfrentar o crime organizado. Ele é um problema. Ele é uma realidade, uma triste realidade, e tem que ser combatido (…) Não adianta fecharmos os olhos quando nós temos um problema. Fechamos os olhos e sonhamos que as coisas são como não são. Isso, obviamente não muda em nada a realidade”.
Na entrevista coletiva que concedeu depois, os jornalistas quiseram saber se, ao afirmar a existência de “acordos tácitos”, falava de algum caso em particular. E ele desconversou, afirmando que não se referia a nenhum “caso concreto”. Mas reiterou a denúncia:
Eu falei que existem acordos tácitos, ou seja, eu finjo que ele não existe, e ele continua lá. É uma situação que é generalizada e ocorreu em muitas situações da história brasileira. Em que a criminalidade organizada existe, e você finge que ela não existe para você conviver com ela, como se fosse possível conviver com situações perigosas e tão potencialmente perigosas como essa”.
Alguém entendeu alguma coisa? Eu entendi! Como detesto coisa enrolada e sigo firme a máxima de Voltaire segundo a qual “o segredo de aborrecer é dizer tudo”, então digo tudo. Começo PELAS COISAS ÀS QUAIS CARDOZO NÃO ESTÁ SE REFERINDO.
Governo FederalDe que “governo” ou “governos” ele fala? Certamente não se refere ao federal, não é? Embora não tenha motivos para isso, os petistas se orgulham de seus oito anos de gestão na área. Sua medida é o número de operações espetaculosas da PF, algumas destinadas apenas a provar que “os ricos também choram”. O crime organizado se “organiza” em torno de alguma coisa: armas pesadas e cocaína são as mercadorias prediletas.  Essas coisas vêm de fora. A vigilância das fronteiras cabe ao governo federal.
Boa parte do tempo, o Ministério da Justiça do governo Lula ficou a cargo de Tarso Genro, atual governador do Rio Grande do Sul, seu aliado; pertenceram à mesma corrente no PT. Não deve, pois, estar criticando o seu mestre. E, por óbvio, ao falar “governos”, deve excluir da lista os de Lula e Dilma.
Seria o Rio?
Ao ler a notícia, cheguei a pensar que Cardozo pudesse estar falando das UPPs, no Rio, as tais Unidades de Polícia Pacificadora. Dada a forma com são implementadas, o “acordo” pode ser considerado mais do que “tácito”, não é? Ele tem um quê de explícito mesmo: “Fujam que nós estamos chegando”. E parte dos traficantes — franjas do crime organizado, que cuida do tráfico — obedecem e dão no pé. Os que vão ficando assumem o compromisso da discrição: nada de posar para fotos portando armas. O tráfico continua a operar normalmente, mas segundo critérios mais civilizados. O próprio secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, já afirmou que o objetivo de sua política de segurança é “recuperar território”. A turma que fugiu do Morro do Alemão continua livre, leve e solta.
Como sou uma pessoa naturalmente boa, cheguei a achar que Cardozo estaria inconformado com isso. “Onde já se viu não prender bandido? Isso tem de acabar! Não basta espantar!” Mas depois me lembrei que as UPPs são consideradas um caso espantoso de sucesso pelo governo petista. A candidata Dilma prometeu adotá-la em escala nacional. Nnessa área, não existe muito espaço para divergência no Rio, não é? A pessoa que discorda, na melhor das hipóteses, vira pária, espírito de porco, sabotador da Copa e da Olimpíada; na pior, leva três balas na cabeça e uma no pescoço, como o blogueiro Ricardo Gama, aquele que filmou Sérgio Cabral, ao lado de Lula, chamando de “otário” um rapaz que reclamava de seu governo. Não teve direito nem a reportagem de TV. Nada pode macular o “Projeto Rio”. Nem os fatos!
São Paulo na miraDe volta a Voltaire: “O segredo de aborrecer é dizer tudo”. Então digo! Circula na banda podre de polícia de São Paulo — e ela existe, claro, como em qualquer estado — e em certas áreas do petismo a mentira estúpida, pilantra, vigarista, de que a Secretaria de Segurança Pública, por meio de Antônio Ferreira Pinto, o secretário, teria feito um acordo com o PCC para, vejam vocês!, baixar o número de homicídios no Estado. Divergência política é parte do jogo democrático; confronto ideológico é próprio das democracias. Essa acusação, no entanto, não é nem uma coisa nem outra: trata-se de má fé criminosa contra uma política de segurança que tem dado certo e contra a eficiência da polícia. Em 12 anos, o número de homicídios despencou no estado: mais de 70%.
Segundo o Mapa da Violência com dados até 2008 — que tem a chancela do próprio governo federal —, o Estado de São Paulo está em penúltimo lugar no ranking dos estados com o maior número de homicídios por 100 mil; a capital, pasmem!, já é aquela em que menos se mata no Brasil! Para certa canalha, isso não se deve à política de segurança pública, à eficiência da Polícia ou ao fato de que este é o estado que mais prende bandidos no Brasil: tem 22% da população nacional e 40% dos presos! Nada disso conta! Seria coisa do próprio PCC, que teria dado uma ordem para a sua turma parar de matar.
O curioso é que todos os outros crimes também caíram, escolham aí. Vai ver o PCC se converteu numa organização de Congregados Marianos: “Olhem, vocês não matem, não roubem, não furtem…” Até desejar a mulher do próximo seria proibido!
PoliticagemPois é… Cardozo não é bobo nem nada. É um dos membros do Paulistério — os paulistas do Ministério. Eles têm o desejo legítimo de voltar à Prefeitura de São Paulo e de tomar o Palácio de Inverno: o dos Bandeirantes. A eficiência da política de segurança pública neste estado ofende os petistas e, é preciso reconhecer, alguns setores da imprensa. Na televisão, convenham, nem parece que se mata no Rio quase o triplo do que se mata em São Paulo. Mais um pouco, Sérgio Cabral ainda vai aparecer dando dicas a Alckmin sobre como elevar os homicídios de 10 por 100 mil para 30 por 100 mil…
Não dá! Já vivi o bastante para identificar certos movimentos. A fala aparentemente sem alvo de Cardozo, uma dos “Porquinhos” de Dilma, parece-me ter um sentido muito claro. E olhem que o primeiro ano de governo mal começou. Este senhor é político. Conhece o fato e o boato como ninguém. Ao dar curso a essa fantasia ridícula, criminosa, pode até atender aos desígnios do seu partido, mas faz com que todos os brasileiros se sintam, então, mais inseguros.
E olhem que trabalho não falta a Cardozo. Segundo todos os dados disponíveis, a violência explodiu no Nordeste, atingindo níveis alarmantes, especialmente na Bahia, governada por seu aliado Jaques Wagner. O Plano Nacional de Segurança, em oito anos de governo petista, nunca saiu do papel. Em vez de vir a São Paulo com conversa mole, com acusações genéricas e irresponsáveis, o ministro da Justiça deveria, humildemente, tomar uma aulas para aprender como se faz.
Pronto! Esse balão de ensaio, eu já furei. O governo Alckmin fique atento. O PT de oposição continua a ser o que sempre foi: um predador da reputação alheia.

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