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segunda-feira, 28 de março de 2011

Caetano Veloso diz não querer dançar comigo “nem morta”! Um beijinho, então, nem pensar! Amadureça, meu senhor! Debata como um rapaz!


É triste o que está a acontecer com alguns dos chamados “ícones” da MPB: vinte e cinco anos de democratização os conduziram à obsolescência! Isso não deixa de ter seu lado bom! Nunca mais chamaremos ninguém de “ícone”. Acho correto recuperarmos o sentido original da palavra, que remete ao sagrado, o que não é o caso dessa gente — nem dessa turma nem de ninguém. Havia mesmo uma disfunção na política brasileira: artistas eram confundidos com pensadores; letristas, com poetas; metáfora, com solução administrativa. A ditadura lhes facultava falar por símbolos, o que deixava entrever a suspeita de sublime e pensamento superior. Na democracia, podem falar com clareza. É um deus-nos-acuda! Quantos de nós não imaginávamos que Chico Buarque, por exemplo, tivesse um bom Brasil na cachola? Sempre que lhe foi dado escolher um país como exemplo de sua “luta”, ele nos exibiu Cuba e seus assassinos.
Quem faltava à polêmica da Lei Rouanet? Aquele que não falta a nenhuma polêmica, procedimento com que, de certo modo, recauchuta a própria obra: Caetano Veloso! Nesse caso, ele vem com menos dendê e mais fúria porque também está defendendo a irmã. Louvo-lhe o amor fraterno e, uma vez mais, lamento o entendimento que tem da República. Fala como um aristocrata, um fidalgo, um defensor de privilégios.
Sabem qual é o grande e fundamental babado no Brasil? O desrespeito à propriedade privada! Como? Qual é a tese, Reinaldo? O dinheiro público — e renúncia fiscal é dinheiro público —, no Brasil, é considerado de ninguém ou, no máximo, “do governo”, como se governos produzissem bens e, portanto, valor. É mentira! Ele vive do que arrecada — e, pois, do confisco de uma parte da produção, prerrogativa que lhe facultamos em nome do bem comum. Deve ser usado para financiar operações que, se entregues às iniciativas privadas (no plural mesmo!), gerariam uma confusão dos diabos. Num caso escandaloso de inversão da finalidade, o dinheiro que aceitamos ser público é usado, com freqüência, para financiar operações privadas — e não só de artistas. Curiosamente, e o caso da Vale está aí como evidência escandalosa, a propriedade privada é expropriada de seus direitos em nome do chamado “interesse público”: o governo Dilma quer Roger Agnelli fora da direção da empresa porque ele teria pensado apenas no bem dos acionistas, ignorando supostas necessidades do Brasil…
Se o dinheiro da Lei Rouanet fosse privado, ninguém teria de torrar a paciência de Bethania ou de Caetano Veloso. Cada um faz com a sua grana o que bem entender, excetuando-se as práticas que os códigos legais consideram criminosas. Ninguém teria de se meter! Mas não é! Se a Vale fosse uma estatal, dentro do que a lei prevê, o governo direcionaria livremente suas estratégias. Mas não é! Qual é a melancólica constatação? Um país que desrespeita a propriedade privada também não vê motivos para respeitar a propriedade pública: o privado passa a ser do estado, e o que é do estado passa a ser de ninguém — ou dos espertalhões que se organizarem com mais eficiência. Essa é a questão de fundo!
Caetano resolveu usar a sua coluna no jornal O Globo para tratar do “caso Bethania”. E diz não querer dançar comigo, chamando-me, pois, para o arrasta-pé. E eu topo, claro! Sempre topo. Esse meu texto vale mais pelo que segue acima, que Caetano está se mostrando bem menos interessante do que eu próprio supunha. Mas vamos lá. Ele segue em vermelho; eu, em azul!
Bethânia
Não concebo por que o cara que aparece no YouTube ameaçando explodir o Ministério da Cultura com dinamite não é punido. O que há afinal? Será que consideram a corja que se  expressa” na internet uma tribo indígena? Inimputável? E cadê a Abin, a PF, o MP? O MinC não é protegido contra ameaças? Podem dizer que espero punição porque o idiota xinga minha irmã. Pode ser. Mas o que me move é da natureza do que me fez reagir à ridícula campanha contra Chico ter ganho o prêmio de Livro do Ano. Aliás, a “Veja” (não, Reinaldo, não danço com você nem morta!) aderiu ao linchamento de Bethânia com a mesma gana. E olha que o André Petry, quando tentou me convencer a dar uma entrevista às páginas amarelas da revista marrom, me assegurou que os então novos diretores da publicação tinham decidido que esta não faria mais “jornalismo com o fígado” (era essa a autoimagem de seus colegas lá dentro). Exigi responder por escrito e com direito a rever o texto final. Petry aceitou (e me disse que seus novos chefes tinham aceito). Terminei não dando entrevista nenhuma, pois a revista achando um modo de me dizer um “não” que Petry não me dissera - e mostrando que queria continuar a “fazer jornalismo com o fígado”) logo publicou ofensa contra Zé Miguel, usando palavras minhas.
Se não quer dançar “nem morta”, acho que não rola beijinho, certo? Que bom! Caetano é experiente no negócio das polêmicas. Atacar a VEJA, em casos assim, sempre rende — ele não lograria o seu intento xingando a Carta Capital, certo? Sua obsessão com a revista o faz ter, a cada hora, uma memória nova: trata-se de uma obra aberta, que vai crescendo e se modificando na medida do seu desagrado. É matéria psicanalítica! Eu nem sei de que vídeo ele fala. Eu, de qualquer modo,  sou contra ameaças terroristas e, sobretudo, ações terroristas — e em qualquer tempo. Isso tem me custado caro!
Nem VEJA nem eu aderimos a linchamento nenhum! A revista dedicou uma pequena matéria ao assunto e não se referiu apenas a Bethania. Eu escrevi vários textos sobre o tema e sempre deixei claro que sou contra a Lei Rouanet em si; o caso da irmã de Caetano se tornou emblemático, vamos convir, por causa dos valores envolvidos. O bom senso considerou excessivo que ela cobrasse R$ 600 mil para dirigir… Bethania em pílulas poéticas na Internet.
A histeria contra Chico me levou a ler o romance de Edney Silvestre (que teria sido injustiçado pela premiação de “Leite derramado”). Silvestre é simpático, mas, sinceramente, o livro não tem condições sequer de se comparar a qualquer dos romances de Chico: vi o quão suspeita era a gritaria, até nesse pormenor. Igualmente suspeito é o modo como “Folha”, “Veja” e uma horda de internautas fingem ver o caso do blog de Bethânia. O que me vem à mente, em ambas as situações, é a desaforada frase obra-prima de Nietzsche: “É preciso defender os fortes contra os fracos.” Bethânia e Chico não foram alvejados por sua inépcia, mas por sua capacidade criativa.
Trata-se de uma abordagem intelectual e historicamente desonesta. O juízo de valor que Caetano faz do livro de Edney Silvestre é, como todo juízo de valor, arbitrário. Direito dele! A crítica ao Prêmio Jabuti estava relacionada ao critério, QUE MUDOU! Eu já disse por que os romances de Chico são ruins. Caetano não consegue dizer por que são bons! Prefere apelar à torcida, um jeito covarde de debater. Como o autor de Leite Derramado  tem uma legião de fãs, apela aos admiradores de seus trinados para que defendam a sua prosa. Eu duvido, mas não dá para comparar aqui, que Caetano seja um leitor de Nietzsche mais dedicado do que sou. Descolada a frase do contexto, ela pode servir à justificação da tirania, assim como a irmã do filósofo tentou fazê-lo um justificador do nazismo. Sem essa, Caetano Veloso! Nietzsche não ampara o nazismo nem explica o capilé para Maria Bethânia.
A “Folha” disparou, maliciosamente, o caso. E o tratou com mais malícia do que se esperaria de um jornal que - embora seu dono e editor tenha dito à revista “Imprensa”, faz décadas, que seu modelo era a “Veja” - se vende como isento e aberto ao debate em nome do esclarecimento geral. A “Veja” logo pôs que Bethânia tinha ganho R$ 1,3 milhão quando sabe-se que a equipe que a aconselhou a estender à internet o trabalho que vem fazendo apenas conseguiu aprovação do MinC para tentar captar, tendo esse valor como teto. Os editores da revista e do jornal sabem que estão enganando os leitores. E estimulando os internautas a darem vazão à mescla de rancor, ignorância e vontade de aparecer que domina grande parte dos que vivem grudados à rede. Rede, aliás, que Bethânia mal conhece, não tendo o hábito de navegar na web, nem sequer sentindo-se atraída por ela.
Não debato a Folha. Isso é coisa lá entre eles. No que diz respeito à VEJA, CAETANO MENTE DE FORMA VERGONHOSA. A revista, reitero, tratou do assunto apenas na edição desta semana, sem uma única incorreção. Eu, no meu blog — e não sou “a” VEJA —, escrevi vários posts a respeito. Respondendo à ex-cria da ARENA Jorge Furtado, expliquei o que era Lei Rouanet, deixei claro que autorização para “captação” não era concessão de verba do Orçamento e que o dinheiro, se conseguido, é público porque vem de renúncia fiscal. COMO CAETANO NÃO CONSEGUE RESPONDER À CRÍTICA COM FUNDAMENTO, RESPONDE À QUE NÃO TEM FUNDAMENTO PORQUE PRECISA DIZER ALGUMA COISA. É uma das técnicas que Schopenhauer denunciava para se tentar ganhar um debate mesmo sem ter razão. É interessante saber que Bethania “mal conhece a rede”, como entidade que pairasse acima dessa vulgaridade. Vai ver é por isso que pediu logo de cara 600 paus para dirigir-se a si mesma, né, Caetano?
Os planos de Bethânia incluíam chegar a escolas públicas e dizer poemas em favelas e periferias das cidades brasileiras. Aceitou o convite feito por Hermano como uma ampliação desse trabalho. De repente vemos o Ricardo Noblat correr em auxílio de Mônica Bergamo, sua íntima parceira extracurricular de longa data. Também tenho fígado. Certos jornalistas precisam sentir na pele os danos que causam com suas leviandades. Toda a grita veio com o corinho que repete o epíteto “máfia do dendê”, expressão cunhada por um tal Tognolli, que escreveu o livro de Lobão, pois este é incapaz de redigir (não é todo cantor de rádio que escreve um “Verdade tropical”). Pensam o quê? Que eu vou ser discreto e sóbrio? Não. Comigo não, violão.
Nessa baixaria, não entro. Aí deixo para o fígado de Caetano Veloso. Começo meu texto fazendo a devida distinção entre “público” e “privado”. Não sou amigo nem de Noblat nem de Mônica Bergamo; tenho com ambos mais divergências do que convergências, mas acho que Caetano não incorre em ilações porque tenha fígado, não, mas porque pode não ter caráter. Pretende, ao expor supostos aspectos da vida privada de seus contendores, matar o debate com um procedimento similar à chantagem! E nada disso torna explicável o benefício concedido a Maria Bethânia.
O projeto que envolve o nome de Bethânia (que consistiria numa série de 365 filmes curtos com ela declamando muito do que há de bom na poesia de língua portuguesa, dirigidos por Andrucha Waddington), recebeu permissão para captar menos do que os futuros projetos de Marisa Monte, Zizi Possi, Erasmo Carlos ou Maria Rita. Isso para só falar de nomes conhecidos. Há muitos que desconheço e que podem captar altíssimo. O filho do Noblat, da banda Trampa, conseguiu R$ 954 mil. No audiovisual há muitos outros que foram liberados para captar mais. Aqui o link: http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2011/02/Resultado-CNIC-184%C2%AA.pdf. Por que escolher Bethânia para bode expiatório? Por que, dentre todos os nossos colegas (autorizados ou não a captar o que quer que seja), ninguém levanta a voz para defendê-la veementemente ?
Muitos erros não fazem um acerto. Caetano, a Soninha-toda-pura, na definição de Wally Salomão, faz de conta que não entendeu  a reação do distinto público. Aquela gente toda a que ele se refere, convenham, ao menos se dispôs a pôr o pé na estrada. Bethania enviou um projeto ao Minc em que receberia R$ 50 mil por mês para… dirigir-se!
Não há coragem? Não há capacidade de indignação? Será que no Brasil só há arremedo de indignação udenista? Maria Bethânia tem sido honrada em sua vida pública. Não há nada que justifique a apressada acusação de interesses escusos lançada contra ela. Só o misto de ressentimento, demagogia e racismo contra baianos (medo da Bahia?) explica a afoiteza.
Ah, a velha acusação de racismo! Pra começo de conversa, “baiano” não é raça, Caetano. Raça nem mesmo existe!
Houve o artigo claro de Hermano Vianna aqui neste espaço. Houve a reportagem equilibrada de Mauro Ventura. Todos sabem que Bethânia não levou R$ 1,3 milhão.
E ninguém afirmou o contrário. Pare de responder a uma mentira!
Todos sabem que ela tampouco tem a função de propor reformas à Lei Rouanet. A discussão necessária sobre esse assunto deve seguir.
É o que todos estão fazendo, tendo como emblema um caso escandaloso.
Para isso, é preciso começar por não querer destruir, como o Brasil ainda está viciado em fazer, os criadores que mais contribuem para o seu crescimento. Se pensavam que eu ia calar sobre isso, se enganaram redondamente. Nunca pedi nada a ninguém. Como disse Dona Ivone Lara (em canção feita para Bethânia e seus irmãos baianos): “Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?”
Ninguém pensava que Caetano fosse calar, convenham! Há anos ele é tomado como símbolo do homem que opina sobre tudo, e com mais convicção em assuntos sobre os quais não entende nada. O choque provocado pelo caso Bethania foi até uma deferência à cantora. Como é um medalhão da MPB — aquilo que antigamente os tontos chamavam “ícone” —-, não se esperava dela um projeto que previsse aquele desfrute.
Caetano responde àquilo que ninguém disse porque não teria como responder àquilo que se disse. Se não quer dançar comigo “nem morta”, santa!, então tem de me deixar fora de sua cantilena nepotista. Se evoca o meu nome, é fatal que a gente se esbarre no salão!






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