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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Gaspari: ‘Tiririca deu exemplo’ e Maia coçou o bolso

O repórter Elio Gaspari levou às páginas desta quarta (13), entre elas as da Folha, um artigo profilático.

Resume um par de casos ocorridos num velho circo. Tentou-se utilizar a grana levada à bilheteria pela platéia como dinheiro grátis.
Pilhado em malfeito, o palhaço se refez em cena. E forçou o mandachuva da lona a reposicionar-se no picadeiro. O texto de Gaspari vai abaixo:
“Tiririca candidatou-se a deputado dizendo que ‘pior do que está, não fica’. Enganou-se. Graças a ele, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), deu-se conta de que não devia ir à Espanha às custas do dinheiro da Viúva para assistir ao jogo do Real Madrid contra o Barcelona, neste sábado.
Na segunda-feira, o palhaço anunciou que devolveria os R$ 971 que cobrou à Câmara pela sua hospedagem no Porto d'Aldeia Resort, em Fortaleza. Até então, Marco Maia achava natural que o dinheiro público patrocinasse seu passeio. Ontem, mudou de ideia e pagará as despesas. Parabéns.
O genial jornalista americano Henry Mencken ensinou que ‘consciência é a voz interior que nos avisa que alguém pode estar olhando’.
Foi a influência da consciência coletiva sobre as consciências individuais que estimulou a atitude imediata de Tiririca e um pouco tardia de Maia.
O presidente da Câmara informou que decidiu custear sua viagem para ‘acabar com qualquer dúvida’ em torno do episódio. Não ficaria ‘dúvida’ alguma.
Ele queria ver um jogo de futebol, acompanhado de dois colegas (Romário de Souza Faria e Eduardo Gomes) e dois assessores, conseguiu um convite do Parlamento espanhol para visitar a instituição e estaria tudo acertado se a iniciativa não tivesse caído na boca do povo.
Muito simples: o doutor queria viajar às custas da Viúva e decidiu fazer o que farão todos os outros espectadores do jogo: pagará pela própria diversão. Acreditar que ele não percebeu a diferença entre pagar a viagem com dinheiro do seu bolso ou com o da bolsa da Viúva seria duvidar de sua inteligência.
Marco Maia entrou na vida pública pela porta do sindicalismo metalúrgico. À primeira vista, representa uma geração de jovens idealistas que ralaram na oposição até a vitória de Lula, em 2002. Nem tanto.
O doutor começou sua militância partidária em 1985. Oito anos depois, o PT conquistou a Prefeitura de Porto Alegre, na qual se manteve até 2001. Desde 1993, ele passou apenas um ano longe do poder municipal, estadual ou federal.
Na Câmara, Maia celebrizou-se ao isentar a Agência Nacional de Aviação Civil de qualquer responsabilidade na crise do apagão aéreo de 2010.
Reincidiu na fama quando enfiou numa medida provisória um cascalho que prorrogava os contratos dos pontos de comércio instalados nos aeroportos nacionais. (O contrabando foi vetado pela presidente Dilma Rousseff.).
A conexão do deputado com a aerocracia pode ser percebida também na sua iniciativa de incluir no Orçamento da Viúva uma dotação de R$ 230 mil para a Abetar, entidade que defende os interesses das empresas de transporte aéreo regional.
Por mais que o PT goste de se apresentar como o campeão das causas dos fracos e dos oprimidos, seu comissariado mostra que assimilou, exerce e gratifica-se com os piores maus costumes dos poderosos.
A doutrina do mensalão (‘fizemos o que todos fazem’) contaminou a retórica dos comissários adicionando-lhe um incontrolável ingrediente de cinismo. Se todos fazem o que fazem, eles investiram-se no direito de fazer o que bem entendem. Às vezes, dá bolo.

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