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terça-feira, 25 de outubro de 2011

MUSEU DO 10º BATALHÃO DE INFANTARIA


Quase 250 anos de história vêm à tona com a criação do Espaço Cultural Marechal Guilherme Xavier de Souza, inaugurado na sede do 10º Batalhão de Infantaria (10º BI), no Bairro Fábrica. Imagens, artefatos bélicos e outras relíquias ajudam a reconstruir a trajetória do regimento, fundado em 1765. Inaugurado na última semana, o circuito permite um paralelo com a história Brasil, através dos conflitos e das missões de paz em que o Exército brasileiro se envolveu.
As curiosidades começam pelo próprio complexo de prédios, acomodados em uma ampla área verde, na Região Noroeste de Juiz de Fora. O edifício central, pioneiro do conjunto, ainda guarda lembranças de suas feições originais, quando abrigava a Escola Agrícola União e Indústria, criada pelo engenheiro Mariano Procópio. A semelhança pode ser comprovada dentro do Espaço Cultural, em comparação com fotos da época de inauguração, em 1865, presentes em um dos primeiros painéis do circuito. Mais adiante, as paredes em alvenaria do subsolo revelam o parentesco da construção com a Villa Ferreira Lage, edificada quatro anos antes, como constatou o diretor da Fundação Museu Mariano Procópio, Douglas Fasolato, em visita ao local.
O embrião do museu surgiu em 1996, quando um regimento enviado a Angola retornou ao país. Na ocasião, foi criado um espaço para a preservação da memória dessa experiência na África. Em 2002, o acervo exibido expandiu-se para outros momentos da história do batalhão, passando a integrar episódios como participação na Segunda Guerra Mundial. No ano passado, por iniciativa do Coronel Eduardo Lopes e Silva, comandante do 10º BI, foi aberta uma passagem para o subsolo, que permitiu a reorganização do espaço, empreendida pelo major Marcos Antônio e pela historiadora Angelita Ferrari.
O período da Segunda Guerra está retratado em um dos segmentos mais ricos do acervo. Além de muitos armamentos, há objetos do cotidiano dos soldados, como kits de talheres, marmita e cantil, além de embornais e coldres. Grande parte desses itens foram doados por pracinhas de Juiz de Fora que pertenceram ao regimento. A simulação de uma acampamento mostra a preparação para o combate nas ofensivas em Montese, na Itália, principal ponto de atuação do batalhão em sua participação no conflito, entre 1944 e 1945. Na ocasião, foram enviados 680 soldados do regimento, número superior à quantidade de militares alocados atualmente no 10º BI. "É como se o quartel ficasse vazio", dimensiona o major.
Entre os itens originais, há exemplares da propaganda nazista, jogada sobre as tropas brasileiras para desestimular sua participação no conflito. Uma das imagens mostram um soldado norte-americano ficando sua bandeira no Rio de Janeiro enquanto um soldado brasileiro jaz morto em território italiano. Do lado oposto da trincheira, os Aliados jogavam salvos-condutos sobre os inimigos, documento que poderia ser apresentado como certeza de segurança em caso de rendição.
No subsolo, ganha destaque a coleção de material bélico. A ênfase na Segunda Guerra encontra respaldo em um uniforme original doado por um pracinha, um capacete de um soldado alemão capturado, além de outros itens de uso cotidiano das tropas. A experiência torna-se completa com a ambientação sonora. Ouve-se, inicialmente, um discurso de Hitler e outro do Primeiro Ministro britânico Winston Churchill, declarando guerra. A narrativa segue com sons de combate e termina com a notícia do fim do conflito, na Rádio Nacional, seguida de um pronunciamento do presidente Getúlio Vargas.
Encerrando o circuito, o visitante é conduzido por um túnel com fotografias do fim da Guerra do Paraguai e Segunda Guerra Mundial. Nesse setor, estão imagens pouco conhecidas, como a da Praça XV, no Rio de Janeiro, tomada pelo povo, ao fim da Guerra do Paraguai. A momentos como esse, somam-se outros flagrantes famosos, como o beijo entre um marinheiro e uma enfermeira em plena Times Square, em Nova York, imortalizado por Alfred Eisenstaedt. "Nossa intenção é mostrar que a guerra existe, mas que, ao final, a vida retoma seu ritmo normal, de paz."
Criado em 1765, no estado do Mato Grosso, o 10º Batalhão de Infantaria esteve alocado em diferentes regiões do país antes de se instalar em Juiz de Fora, em 1919. "As unidades podem mudar de nome e local ao longo de suas histórias", explica o gestor do espaço, Major Marcos Antônio Tavares da Costa. No mesmo ano, chegaram à cidade outros regimentos, constituindo uma força militar superior à da capital. Segundo o major, uma referência ao papel de centro econômico ocupado pelo município nessa época.
Essa trajetória prévia do regimento - antes de chegar à cidade, em 1919 - conta com registros fotográficos de soldados em campanhas como as das Revoltas Federalista, da Armada, da Vacina e do Contestado. Além de imagens, a Guerra do Paraguai é aludida por meio da réplica do uniforme usado pelos soldados e um fuzil original, de 1853.
Depois de ter se estabelecido em Juiz de Fora, o 10º BI esteve envolvido em outros episódios célebres da história do Brasil. O primeiro deles foi a Revolta do Forte de Copacabana, em 1922. Há referências também às revoltas de 1930, quando o batalhão atuou ao lado dos Legalistas, contra as forças reunidas por Getúlio Vargas, e na Guerra Constitucionalista, de 1932. "A história do batalhão se confunde com muitas das participações do Exército Brasileiro em conflitos", endossa o major.
Episódios mais recentes da história do batalhão ganham destaque no museu, a começar pelas ações de paz em Angola. Desse período, o museu guarda objetos, uniformes e minas terrestres recolhidas na operação.
A experiência do 10º BI no Haiti também está presente, incluindo o testemunho da tragédia causada pelo terremoto de 2010. Dois painéis mostram a fachada do Forte Nacional, em Porto Príncipe, antes e depois do terremoto. O prédio ocupado pelo batalhão ruiu em cerca de 30 segundos. Um manequim, vestido com o uniforme do Exército, presta uma homenagem ao soldado que morreu soterrado no episódio.
Outro fator que desperta curiosidade no museu é o espaço dedicado a personalidades que passaram pelo batalhão. Entre elas, está o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que serviu ao Exército em Juiz de Fora, durante quatro anos, como soldado corneteiro. Ironicamente, o sanfoneiro foi reprovado na seleção dos integrantes da banda do regimento.
O Espaço Cultural Marechal Guilherme Xavier de Souza é aberto à visitação segunda, das 13h às 15h, de terça a quinta, das 9h30 às 11h e das 13h às 15h, sexta, das 8h ao meio-dia. Não é necessário agendamento prévio para grupos com menos de 40 pessoas. Caso contrário, basta ligar para o telefone 3215-8489 e marcar a visita.

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