Anos atrás apresentou-se em Brasília uma companhia japonesa de bunraku. Nunca ouviu falar? O bunraku é um teatro de bonecos.
São manipulados por pessoas vestidas de preto –dos pés à cabeça. Os manipuladores não se escondem. Porém...
...Porém, a platéia é tacitamente convidada a fingir que eles não estão em cena. A graça do espetáculo consiste em atribuir vida própria aos bonecos.
Pois bem. Há no Planalto uma galeria de fotos que lembra o bunraku. Em primeiro plano, as imagens de todos os presidentes brasileiros.
Exibidos aos turistas em visitas guiadas à sede do governo, os retratos também exigem do observador uma certa dose de cumplicidade.
Olha-se para o Sarney, o Collor, o Itamar, o FHC, o Lula e finge-se que são autônomos, que não há nenhum homem de preto por trás deles.
Nesta segunda (14), foi à parede de mármore a foto de Dilma Rousseff. Um retrato em cores. Prerrogativa que distingue os titulares dos outros, em preto e branco.
É como se a nova foto, mais estilizada, visasse atenuar na alma de quem vê a cumplicidade do fingimento.
Hipnotizado pela cor, o expectador como que esquece tudo o que está por trás. Um detalhe, porém, conspurcou a intenção.
Esqueceram de anotar sob o rosto o nome da “nova” presidente. Olha-se para todos os antecessores e lá estão os nomes. Na foto de Dilma, nada.
“Luiz Inácio Lula da Silva”, eis o último nome que se lê na galeria. Na sequência, o retrato sem nome flutuava no mármore como mera continuação do anterior.
A foto foi rapidamente retirada da galeria. Decidiu-se adicionar o nome Dilma. Melhor assim.
Numa hora em que ela tenta firmar-se como mulher providencial, convém reforçar, ao menos no retrato, a disposição de expulsar os manipuladores de cena.
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