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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Conheça o empresário mais misterioso do Brasil


Ernesto Corrêa da Silva Filho levou quase oito anos para transformar o frigorífico Pul, unidade de uma modesta cooperativa uruguaia, no mais cobiçado abatedouro da América do Sul. Esta seria apenas mais uma história de sucesso de um empreendedor brasileiro no Exterior se o nome do empresário gaúcho não estivesse associado ao negócio. Atrás de um muro que tenta protegê-lo dos holofotes, Corrêa comanda negócios nas mais diferentes áreas há mais de três décadas, sempre chamando a atenção pela taxa de sucesso e diversidade dos seus empreendimentos.
O gaúcho fez fortuna no setor de calçados no Brasil e na China, se destacou na pecuária, é o principal investidor de negócios como a rede de hotéis Intercity, dono do banco Topázio, a rede de pagamentos eletrônicos GetNet e a administradora de cartões e serviços corporativos Embratec Good Card, mas nunca havia atuado na ponta final da cadeia da carne até 2003, quando desembolsou US$ 7 milhões por 75% do frigorífico da cooperativa de pecuaristas (Productores Unidos Ltda - Pul).
Em janeiro último, o grupo paulista Minerva comprou o frigorífico uruguaio por US$ 65 milhões, lance considerado estratégico para observadores do setor: com rentabilidade em alta, o Pul era uma das joias do continente, próximo a um rebanho de alta qualidade. Cerca de 85% da produção do frigorífico é exportada, incluindo mercados nobres como União Europeia e Estados Unidos. O empresário mais que dobrou a produção e transformou a antiga marca da cooperativa em sinônimo de carne de primeira. Se o capricho neste e nos demais negócios fez de Corrêa um dos empresários mais ricos do Brasil, será difícil saber. Mas é certo que poucos brasileiros se destacaram em áreas tão distantes quanto a indústria calçadista e o mercado agropecuário, setores que, em semelhança, compartilham apenas o couro.
E poucos foram tão arredios à notoriedade que costuma acompanhar os empreendedores bem sucedidos. Já foi dito que Ernesto Corrêa é o maior exportador de calçados na China, uma marca impressionante, levando em conta que o gigante asiático se tornou o maior fabricante e maior vendedor mundial de pares. Corrêa também seria o maior proprietário individual de terras no Uruguai, dono de uma das mais modernas estâncias de todo pampa, português ou espanhol.
Eike Batista às avessas
Se alguma dessas alcunhas é verdadeira, o próprio empresário não confirma. Ao contrário de Eike Batista, um bilionário que, como Corrêa, estende seus tentáculos em operações que vão da mineração à hotelaria, mas não descuida da presença na mídia, o gaúcho despende igual energia em duas prioridades: cuidar dos negócios e se manter anônimo.
Corrêa não dá entrevistas e não existem estatísticas ou balanços que possam comprovar a dimensão dos negócios do empresário no Brasil, na China ou no Uruguai. Ao longo de quatro meses, o iG procurou amigos e pediu que a assessoria de imprensa da rede Intercity encaminhasse um pedido de entrevista com o empresário para poder contar a história desse curioso personagem da vida empresarial, pivô de uma transformação histórica do polo calçadista brasileiro. A resposta foi a mesma: Corrêa nem sequer responde pedidos para falar com a imprensa, e os amigos se sentem incomodados em interceder. Aqueles que concordaram em falar pediram o anonimato.
Como tudo na vida do empresário, da idade (cerca de 70 anos) à extensão dos negócios, pouco se sabe o motivo exato pelo qual Corrêa decidiu vender o frigorífico. Sabe-se apenas que, sob sua gestão, o Pul saiu de uma posição modesta, no início da década, para conquistar admiração de pessoas como o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abeic), Antonio Jorge Camardelli. 

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