REFERÊNCIA POLÍTICA
Foi sepultado ontem no Parque da Saudade o ex-vereador Ivan Barbosa, figura emblemática de Juiz de Fora, por ter sido fonte de inspiração de uma geração de políticos nos anos 1970, em pleno regime militar. Articulado e destemido, Ivan começou a marcar posição na presidência do Diretório Central dos Estudantes, em 1974. Elegeu o sucessor, Reginaldo Arcuri, e ampliou sua militância partidária no MDB, naquele período, único reduto de oposição, que abrigava políticos de várias tendências. De suas ações surgiram políticos como o prefeito Custódio Mattos e o deputado Marcus Pestana, além de outros que com ele dividiram articulações na área estudantil e partidária, como Paulo Delgado e o próprio Arcuri. Em 1976, disputou uma vaga na Câmara e foi o mais votado, levando para o Legislativo o discurso de protesto contra a ditadura - ousado para a época - obtendo cerca de 4 mil votos, proporcionalmente uma das maiores, senão a maior, votação da disputa pela Câmara. No último comício do partido, temendo um discurso radical, que poderia prejudicar a campanha do deputado Tarcísio Delgado, que tentava pela primeira vez a Prefeitura, os próprios militantes o tiraram do palanque. Ele não temia o sistema.
Mais votado
Ivan cumpriu um mandato de seis anos, quando o prefeito era Francisco Antônio de Mello Reis. Já com 19 vereadores, o Legislativo se dividia entre Arena, com dez representantes, e o MDB, com nove. A articulação dos emedebistas já se manifestou no dia da posse, quando, mesmo em minoria, o partido venceu a eleição para a presidência da Câmara votando em massa no dissidente Wilson Coury Jabour, da Arena, que enfrentou o seu próprio colega de partido, Fernando Paranhos. Com os nove votos do MDB e o seu próprio, Jabour venceu por 10 a 9. O dedo de Ivan foi vital na articulação.
Nos bastidores
Ivan Barbosa fez uma única tentativa de ser deputado, mas a esquerda, já no novo cenário, estava dividida, e ele, apesar de ter sido bem votado, não se elegeu. Um dos momentos mais memoráveis da campanha foi um debate na antiga Capela do Stella Matutina, já transformada em galeria de arte, com Humberto Rezende, também candidato da esquerda. Os militantes lotaram o espaço e a tensão marcou o evento, já que os dois militantes tinham muitos seguidores. Depois disso, desistiu das disputas e passou a atuar nos bastidores, vocação que jamais abandonou, mesmo a distância.
Lula lembrou
Quando de sua visita a Juiz de Fora para inaugurar a UPA de Santa Luzia, o ex-presidente Lula lembrou-se apenas de um personagem que o acolheu quando ainda era um mero pretendente à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos. "Aonde está o Ivan?", perguntou aos interlocutores e o citou no discurso. E havia motivo. Com seu feeling para perceber talentos, Ivan lhe dedicou plena atenção, sendo seu cicerone, em 1975, quando a liderança era Paulo Vidal, então poderoso presidente do Sindicato. Lula ficou dois dias na cidade.
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