O vereador Gêra Ornelas renunciou ao mandato na Câmara Municipal de Belo Horizonte na tarde desta quinta-feira (1º). A decisão de deixar a política foi tomada por causa do vazamento de um vídeo na internet, em outubro, em que Ornelas supostamente aparece de cueca samba-canção no gabinete.
A carta de renúncia foi lida na abertura da reunião plenária pelo presidente da Câmara, Léo Burguês (PSDB). Para a sessão, era esperada a apreciação de um relatório da Corregedoria da casa pedindo a abertura de uma comissão processante contra Ornelas. Ele estava sendo investigado por quebra de decoro e corria o risco de ter o mandato cassado.
Procurado pelo G1, Ornelas disse que entregou a carta de renúncia na tarde desta quinta-feira (1º), após se sentir pressionado pelo partido. "Renunciei ao mandato. Não estava aguentando mais. A minha família é de pessoas muito sensíveis", disse se referindo ao vídeo que vazou na internet. De acordo com a assessoria da câmara, o suplente Fábio Caldeira (PSB) vai ser convocado.
No último dia 23, Ornelas havia pedido desfiliação do Partido Socialista Brasileiro (PSB) de Belo Horizonte. Na data, ele disse que pediu o cancelamento da filiação “para evitar um processo burocrático dentro do partido”. O vereador afirmou que o PSB iria puni-lo com uma advertência de 12 meses e, por isso, resolveu sair antes. “Eu acabei com 70% da minha angústia depois do pedido de desfiliação”, afirmou.
Quando deixou o partido na semana passada, ele afirmou ao G1 que aparecia no vídeo de bermuda e não de cueca. Ainda segundo o então vereador, ele não entendeu a repercussão que o caso ganhou, uma vez que “existem casos bem piores na área da política”.
Ornelas justificou vídeo
Em entrevista no dia 24 de outubro, Gêra Ornelas afirmou que as imagens que vazaram na internet foram gravadas por uma câmera comprada e instalada por ele no gabinete. “Queria pegar uma pessoa que me roubou dinheiro”, falou.
Ainda segundo o ex-vereador, o vídeo é uma montagem de três momentos registrados em 1997: no primeiro, uma mão [de Gêra Ornelas] aparece instalando a câmera filmadora escondida no gabinete – segundo ele, em um fim de semana; no segundo corte, o parlamentar aparece vestido acariciando uma jovem também no ambiente de trabalho; no terceiro momento, Gêra Ornelas é mostrado sem camisa e supostamente de cueca – informação que ele nega. Ornelas reforçou que ele estava de bermuda e que as imagens foram gravadas em um fim de semana. “Estava de short. E não é só eu que vou assim para a Câmara, não. Lá no regulamento [ da Câmara] não diz que não posso ir de bermuda”, acrescentou.
De acordo com Ornelas, em posse das imagens, um assessor que trabalhou para o parlamentar entre 1998 e 2001 e também no período de 2001 a 2005, iniciou uma série de chantagens que duraram cerca de seis anos. Em troca de silêncio sobre as imagens, que incluem uma gravação de uma relação sexual do parlamentar - segundo denúncia do Ministério Público Estadual (MPE) - o ex-assessor exigiu dinheiro. Ele contou que, por instrução do advogado Antônio Patente, parou de dar dinheiro ao ex-assessor, que formalizou uma denúncia na Vara da Infância e da Juventude.
Acusação do Ministério Público
À época do vazamento do vídeo na internet, o promotor Eduardo Nepomuceno informou que as cenas foram gravadas pelo próprio vereador e usadas por um ex-assessor do parlamentar para embasar denúncias de improbidade, concussão e lavagem de dinheiro feitas há mais de três anos. “Grande parte das filmagens foi feita dentro do gabinete, que é um local público, o que mostra deturpação de valores do que é o serviço publico”, disse.
De acordo com Nepomuceno, o vídeo também é objeto de investigação da promotoria da Infância e Juventude. “Supostamente, [um dos vídeos] envolvia a abordagem de uma menor de idade”, falou. O promotor esclareceu que o material audiovisual utilizado nas investigações é uma compilação de vários vídeos.
O Ministério Público Estadual de Minas Gerais (MPE) havia pedido a cassação do mandato de Gêra Ornelas, após acusação de que o assessor era obrigado a devolver parte do salário ao parlamentar. Ainda de acordo com informações do promotor, o vereador foi absolvido em setembro por falta de provas.
O advogado que representa o vereador, Antônio Patente, informou que o político responde a um procedimento em uma ação civil pública e que o procedimento é sobre uma questão financeira. Ainda segundo ele, o MPE também instaurou um procedimento investigatório com uma ação civil por improbidade administrativa e uma ação penal por fatos relacionados ao conteúdo do vídeo. Conforme o advogado, os dois procedimentos correm em segredo de Justiça.
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