As cédulas de real, moeda nacional criada em 1994 e símbolo do plano que uniu os esforços do governo em combater a inflação, completam 17 anos nesta sexta-feira (1º). Elas entraram em circulação no dia 1º de julho daquele ano, sob a promessa de garantir e estabilizar o poder de compra do brasileiro. Naquele dia, os brasileiros que foram aos bancos levando notas de cruzeiros reais saíram com cédulas novas em folha da nova moeda. Cada CR$ 2.750 foi trocado por R$ 1.
“Com a entrada da nova moeda, os brasileiros começarão a sentir os efeitos da queda decisiva da inflação”, anunciava documento encabeçado pelo Ministro da Fazenda, Rubens Ricupero e encaminhado na véspera ao então presidente da República, Itamar Franco, que explicava os motivos para a implantação do real.
De lá para cá, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 286,63% entre julho de 1994 e maio de 2011, segundo dados do IBGE. Ou seja: um produto que naquele mês custava R$ 10, hoje sairia por R$ 38,66.
Parece muito, mas indica que o plano alcançou seu objetivo principal: só nos seis meses antes da entrada em circulação da nova moeda, a inflação acumulara alta de 757,29%. No ano anterior, a inflação pelo IPCA batera os exorbitantes 2.477,15%. No primeiro mês de circulação do real, caiu para 6,48%.Na avaliação do pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Armando Castelar, o real perdeu poder de compra desde a sua criação, mas em ritmo bem mais lento do que o que ocorria antes do plano. "O poder de compra do real diminuiu nesse tempo por causa da inflação. Mas o que é interessante é que demorou 17 anos para ter uma perda que antes acontecia em um trimestre", compara o professor.
Para Castelar, os mais pobres foram os mais beneficiados pela estabilização da inflação, já que são os mais penalizados em tempos de alta dos preços. "Na época da inflação descontrolada, conheci uma fábrica no interior de São Paulo em que os funcionários pediram para não saber em que dia eles receberiam o salário, porque todos os supermercados aumentavam os preços no dia do pagamento", conta Castelar. "Isso dá uma ideia da complexidade que era viver de uma inflação nesse tamanho.Quem sofria mais eram as pessoas mais pobres, sem conta em banco e que recebiam em dinheiro vivo", diz.
O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, Antonio Comune, concorda. " Todos perdem com a inflação, mas quem perde mais é o pobre", diz.
Vilões da inflaçãoDe acordo com os dados do IBGE, os preços dos combustíveis (790,36%), comunicação (700,70%), aluguel e taxas (634,17%) e transporte público (586, 78%), foram os que mais avançaram nesses 17 anos.
Na outra ponta, frutas (-8,49%) e TV, som e informática (-32,31), ficaram mais baratos desde julho de 1994.
Levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra que, desde que as notas do real chegaram às mãos dos brasileiros, a inflação média acumulada na região metropolitana de São Paulo foi de 243,23% de julho de 1994 a maio de 2011, nos itens pesquisados para o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe.
No mesmo período, itens apreciados pelos brasileiros tiveram aumentos acima da inflação média: o pão francês teve alta de 399,11%. O preço da alcatra subiu 291,36%. O frango, que se tornou símbolo do Plano Real quando era vendido a R$ 1 o quilo em 1994, teve aumento médio de 209,51% nos últimos 17 anos.
Entre os transportes coletivos, as tarifas de ônibus tiveram aumento médio de 611,04% desde julho de 1994.
Os mais baratosOs itens de vestuário estão entre os "mocinhos" da inflação da Fipe, com alta de apenas 28,14% em 17 anos. Roupas de mulher tiveram deflação: -10,76%. "Desde que a China entrou na OMC (Organização Mundial do Comércio) e passou a exportar, em 2001, os preços do vestuário baratearam e pararam de acompanhar a inflação", explica o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, Antonio Comune.
Inflação volta a preocupar - mas em outro patamarDesde o Plano Real, a inflação vive sob "vigilância". O governo trabalha com um sistema de meta anual para o IPCA, que busca atingir usando, entre outros instrumentos, a taxa básica de juros.
O assunto voltou a preocupar este ano, quando o acumulado em 12 meses ultrapassou o teto da meta, de 6,5%, chegando a 6,51% em abril. Na quarta-feira (29), o Banco Central apontou que a expectativa de inflação para este ano é de 5,8%, enquanto os economistas dos bancos projetam uma taxa de 6,16%.
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